Na manhã escaldante, saí da brisa do mar para a mesma cidade de sempre. Subi as longas escadas, percorri os corredores que a beleza podia habitar se não tivesse sido escorraçada por pilhas de papéis amarelos, bafientos, contendo decisões adiadas perdidas no tempo.
Comecei a manhã de puro tédio, de insistente monotonia. Há destinos a decidir de anónimos com nome que esperam lá situados na NUT () Zona () Concelho (). Na opinião de alguns pequenos poderes ( de hoje, amanhã talvez já não) decide-se, após alguma discussão, que
neste momento não se pode tomar uma decisão.
Na volta, o sol fere-me os olhos e as cores desta cidade em festa parecem-me irónicas. No comboio, sou embalada pelo som do harmónio da pobreza deste país, original ou importada. E uma esmolinha que não como desde ontem
que tenho oito filhos para criar
que tenho sida, tuberculose, um turbilhão confuso de desgraças a toldarem o sol. Lembro-me dos outros, dos anónimos cujos nomes me passaram pela mão, esperando decisões que aguardam aqui, na cidade de sempre, em manhãs escaldantes de puro tédio.
De Anónimo a 3 de Julho de 2004 às 09:38
Sara: obrigada pela forma tão atenta de ler e tão generosa no comentar. As minhas idas a Lisboa por força de reuniões de trabalho dão-me às vezes vontade de gritar... Como para gritar sem me internarem teria que ir para um sítio deserto (onde aqui?) , acabo por escrever. Beijinhoslique
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(mailto:lique2@sapo.pt)
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