Tanto tempo sem aqui vir, a este espaço que já nem me parece meu, desde que o template mudou... Lembro-me bem do antigo, daquele onde comecei. Num passo miúdo, tímido. Que seria exactamente isto de ter um blog? Hoje, depois de ter construido e destruido uns tantos, tenho uma ideia bastante clara do que é. Para mim, apenas um espaço de escrita, de expressão pessoal. Talvez porque a mais nada aspiro.
Divago. Na verdade, hoje resolvi fazer uma peregrinação pelos antigos blogs ainda activos. Porque o ano está no fim. Porque tenho que tomar resoluções de ano novo (para cumprir!) no que respeita à minha presença na blogoesfera. E no que respeita à minha vida. Não sei se isto ajuda a resolver algo. Mas sabe bem. Sabe muito bem escutar os sons das velhas paredes virtuais.
Se alguém por aqui passar, um Feliz 2008!
os teus lábios parados eram a noite, o abismo
e o silêncio das ondas paradas de encontro às
rochas, o teu rosto dentro das minha mãos.
os meus dedos sobre os teus lábios e a ternura,
como o horizonte, debaixo dos meus dedos.
os meus lábios a aproximarem-se dos teus lábios,
os teus olhos entreabertos, os teus olhos e os
teus lábios a aproximarem-se dos meus lábios
a aproximarem-se dos teus lábios a aproximarem-se
dos meus lábios, teus lábios.
José Luís Peixoto
Não quero mais um dia.
Quero um novo dia,
Repleto de surpresa e fantasia.
Anseio por novidades e mudanças,
Novas cores,
Novas vidas,
Novas esperanças.
Algumas noites deveriam ser prateadas,
Porque hão-de ser sempre negras e cerradas?
E o mar? Sempre azul cintilante!
Porque não vermelho flamejante?
Os campos deveriam amanhecer azuis algumas vezes,
E todos os anos deveriam mudar o nome dos meses.
Como seria doce pela manhã despertar,
Olhar ao alto e exclamar:
"Hoje o céu está da cor da esperança,
E o tempo parou! O relógio não avança."
Mas os dias... são todos tão iguais,
Vinte e quatro horas pontuais.
Estou enfastiado desta monotonia grosseira,
Não poderiam ser vinte cinco à sexta-feira?
Contem-me mentiras novas, histórias surpreendentes.
Reinventem o mundo com imagens diferentes.
Só tenho vinte cinco anos e estou tão cansado...
Reinventem este mundo ou levem-me para outro lado!
Gonçalo Nuno Martins, in Nada em 53 vezes
há uma escuridão por trás dos olhos
uma ausência de palavras
como se de usadas tivessem se gastado
definitivamente.
há uma impossibilidade de tudo em tudo
uma impossibilidade.
no entanto o dia é azul e claro
e cantam os pássaros no ipê.
talvez apenas tenha eu mudado
talvez apenas tenha eu morrido
quase sem me aperceber.
Márcia Maia, in em queda livre
Ó imagem do meu horizonte restrito e fronteiro,
há pouco ao alcance dos meus olhos reais,
perto, perto, ali!...
E parecu-me coisa tão natural
uma coisa que talvez não torne mais a acontecer!
Tão natural que só olhei de quando em quando
e de revés,
nem senti o desejo de fixar-te bem...
e era fácil, imóvel como ias!...
E se o tivesse feito
acabava nitidamente com a multidão dos teus aspectos
sempre desencontrados entre a memória e o pensar memória!
Tão natural porque talvez cá
dentro de mim, ande
uma confiança de repetição destas pequenas coisas,
confiança feita de não esperar
e de as supor maiores...
Jorge de Sena, in Obras, Vol.10º