Domingo, 21 de Março de 2004

The becoming of Spring (Ostara)

Ostara.jpg
“Ostara (Eostre), the Goddess of Spring and the Morning Redness, presides over the Vernal Equinox is commonly depicted standing among Spring's flowers and vines, holding an egg in Her hand. Around Her feet the hares play joyfully in the Spring grass and birds fly above Her. Her head is crowned with Spring's flowers.”

Holiday overview - by Christina Aubin


Os festejos do equinócio da Primavera provêm duma tradição pagã, ainda hoje celebrada nos círculos que mantêm as antigas religiões pré-cristãs. Curiosos são os símbolos associados à deusa da Primavera: um ovo, lebres, pássaros. A própria palavra Ostara (ou Eostre , como também é referida) é certamente a origem da palavra Easter (Páscoa) . A Páscoa é frequentemente celebrada próximo do início da Primavera.
É interessante pensar na forma como as antigas religiões se misturaram com o cristianismo, mantendo muitas das razões de celebração. Na Primavera, continuamos a ver a renovação da terra e um pouco também a nossa, o acabar dos rigores do Inverno, a promessa de dias belos e alguma chuva associados à fertilidade (hoje em dia, é talvez esse o aspecto menos importante nas zonas ditas civilizadas, mas é ainda primordial para quem depende da terra para viver). E na Páscoa, para os cristãos e para os judeus, há renovações com diferentes significados, mas que não deixam de ser renovações, em cada ano que passa.
Curioso é também que a data da celebração de Ostara, para quem segue as antigas religiões, varie conforme o hemisfério (a data de 21 de Março é para o hemisfério norte). Mas a Páscoa é ditada pelas datas do hemisfério norte, independentemente do início da Primavera. As religiões cristã e judaica, originárias do hemisfério norte, ditaram a sua lei, abafando todo o significado pagão que estava associado à data.
Tudo isto são curiosidades. Nós vamos continuar a celebrar a Primavera porque o sangue nos corre mais quente e suave no corpo, em comunhão com a terra lá fora, e vamos também celebrar a Páscoa, com coelhinhos e ovinhos de chocolate que “roubámos” a Ostara, por fé ou por tradição.
Então feliz equinócio e celebremos Ostara, por agora!

publicado por lique às 10:51
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Sábado, 20 de Março de 2004

Caranguejola

sacarneiro.jpg
Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!

Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.

Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.
P'ra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
Que querem fazer de mim com estes enleios e medos?
Não fui feito p'ra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!...

Noite sempre p'lo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho - que amor!...
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor -
P'lo menos era o sossego completo... História! Era a melhor das vidas...

Se me doem os pés e não sei andar direito,
P'ra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?
Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde.
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...

De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo -
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...

Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará
P'ra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. C'o a breca! levem-me p'rá enfermaria -
Isto é: p'ra um quarto particular que o meu pai pagará.

Justo. Um quarto de hospital - higiénico, todo branco, moderno e tranquilo;
Em Paris, é preferível, por causa da legenda...
De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda;
E depois estar maluquinho em Paris, fica bem, tem certo estilo...

Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras.
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou

Mário
de Sá Carneiro
(Paris, Novembro de 1915, 5 meses antes da sua morte)

Para a Mis que disse que 
todos falam de Pessoa e se esquecem do seu grande amigo

publicado por lique às 09:22
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Sexta-feira, 19 de Março de 2004

Em memória do meu pai

Ele era o pilar da casa. Mais que a minha mãe que, por amor e por opção, vivia muito na sombra dele. De muito pequena, lembro-me da primeira casa onde vivemos só nós, cheia de livros que ele amava e que muitos deles estavam proibidos. O dono de uma livraria da vila mais próxima guardava-os para ele antes que a censura os tirasse das prateleiras. Não entendia bem as razões que o levavam a dizer-me que algumas coisas que ele comentava em casa não eram para repetir na escola. Percebi quando foi chamado à PIDE como resultado de eu ter dito à professora que ouvíamos a propaganda da oposição no Rádio Clube Português, aquando da campanha do Humberto Delgado. Ele tinha sido um elemento activo no MUD juvenil e ,como tal, era sempre vigiado. Como podia eu saber que aquela medíocre professora substituta (era uma regente escolar, figura que penso que hoje já não existe) e também o padre da aldeia eram informadores da PIDE? Eu nem entendia bem o que era a PIDE…
Todos os meus brinquedos, as minhas colecções de cromos, era ele que escolhia e trazia para casa. A surpresa daquelas chegadas era a maior alegria da minha vida de menina de aldeia que, à medida que crescia, ia lendo todos os tais livros e aspirando a sair dali e conhecer o resto do mundo. Mais tarde, já vivendo pertinho da capital, os meus presentes mais desejados continuavam a vir dele. Nessa altura, já tínhamos grandes discussões, talvez resultantes de feitios muito parecidos (têm o mesmo feitio, dizia a família toda…). O 25 de Abril foi a alegria maior e eu lembro tudo como se fosse hoje: a ansiedade todo o dia, o ouvir aquelas canções que nunca tínhamos sonhado ouvir na rádio, o ficar a pé até ás tantas à espera daquele comunicado… E ir para a rua para viver aquele 1º de Maio!
Depois eu casei-me, as netas nasceram, mas sabia que ele se preocupava com tudo o que acontecia e que era quem mais remava para manter a família unida. Morreu cedo, o meu pai, na altura em que estava a preparar tudo para se reformar e dedicar-se aos múltiplos interesses que tinha na vida. E ainda hoje, quando eu tenho problemas para os quais a solução não é clara, penso no que ele diria e, de qualquer estranha forma, espero uma ajudinha. Hoje é o dia do pai.
publicado por lique às 12:41
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Quinta-feira, 18 de Março de 2004

Todo o tempo é de poesia - António Gedeão

poetry.jpg
Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.
Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia

Todo o tempo é de poesia

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas qu'a amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.
publicado por lique às 18:57
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Quarta-feira, 17 de Março de 2004

A Paixão de Cristo

Cedi à curiosidade e fui ver. Não quero ofender ninguém com este post, mas na realidade não consegui chegar a entender o que pretende Mel Gibson provar. Mostrar a verdade? Mas qual verdade? Neste assunto, a verdade é matéria de fé e como tal deve ser mostrada. Ou seja, deve ser fiel à mensagem cristã e fazê-la passar. Ou não, se alguém quiser fazer um filme que defenda o contrário! Este é um filme brutal e, embora as palavras de perdão estejam na boca de Cristo, não há ali nenhum perdão da parte de quem o realizou. É isso que as imagens dizem: não há perdão.
Do ponto de vista meramente cinematográfico não me parece em nada um grande filme. Tem aqui e ali momentos de boa fotografia (ainda que a escorregar para os clichés mais darks da arte sacra), embora a cor vermelha seja tanta que se sobrepõe a tudo o resto. A história é obviamente conhecida e não me parece que, a não ser pela violência, haja qualquer abordagem original. Tanta polémica sobre o anti-semitismo vem de onde? A mim parece-me que os judeus são retratados como os únicos a quem Cristo ameaçava em termos de poder (queriam lá os romanos saber de mais um profeta naquelas terras longínquas!). E esse é o ponto de vista habitual dos filmes sobre este tema. Que foram os judeus que o entregaram também é consensual, em termos de leitura dos Evangelhos. Então?? Já nem valerá a pena falar daquele fim, eu não consigo imaginar Cristo a ressuscitar e caminhar nu para…onde? A ressurreição também é matéria de fé e como tal…deve passar a mensagem espiritual. E talvez ao escrever isto eu tenha chegado ao que me chocou, a mim que nem costumo impressionar-me nada com filmes violentos. Não consegui encontrar mensagem espiritual neste filme. Só vi sangue e carne esfacelada e talvez isso me tenha embotado os sentidos. Ou talvez a mensagem não exista ou não seja essa. O extremismo católico talvez leve ao que eu disse no início: não há perdão. E isso não é afinal renegar o sacrifício redentor e transformá-lo tão somente numa carnificina?
publicado por lique às 17:05
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