Segunda-feira, 26 de Abril de 2004
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Um conto de um mentiroso
A 26 de Abril de 1937, em Guernica, pequena cidade da Biscaia, era dia de mercado. As ruas estavam cheias de camponeses vindos dos arredores. Às 16H 45M , hora do maior movimento, bombardeiros alemães iniciaram o lançamento de bombas sobre a cidade. O bombardeamento durou 2 horas e 45 minutos. No final, contaram-se cerca de 1700 mortos e 900 feridos, numa população de pouco mais de 6000 habitantes.
Estava-se em plena Guerra Civil de Espanha. Hitler experimentava os seus bombardeiros e dava uma mãozinha a Francisco Franco. A escolha de Guernica deveu-se fundamentalmente a ser um alvo fácil, sem protecção antiaérea. Diz-se também que pesou na decisão o facto de abrigar um velho carvalho (Guernikako arbola) debaixo do qual os monarcas espanhóis ou seus legados, desde os tempos medievais, juravam respeitar as leis e costumes dos bascos, bem como as decisões da batzarraks (o conselho basco). Como o levantamento de Franco contra o governo republicano-esquerdista da Frente Popular visava também as autonomias regionais, a destruição de Guernica serviria como uma lição a todos os que sonhavam uma Espanha em que estas fossem respeitadas.
O quadro aqui reproduzido é, como todos sabem, do pintor Pablo Picasso.
Domingo, 25 de Abril de 2004
Para todos os que aqui passarem, deixo este cravo.
Tocou o telefone na madrugada
Lá longe, lá longe
Revolução
quê?
Qual nada!
Não serão os ultras?
Não serão os outros?
Onde está o botão do rádio?
Levantar, agora?
Quem faz revoluções a esta hora?
Levantada, seja
Deixa lá escutar
Canções estalam
Estas canções???
Gritos de esperança
No meu madrugar
Depressa, expliquem
Mãe, pai, o que é isto?
Digam tudo já ou eu não resisto
E a voz falou
Na cidade parada
Rompeu o silêncio
Disse a palavra
Há tanto esperada
A marcha cantou iniciando o dia
No amanhecer saído do sonho.
Mãe, pai, não digam nada agora
Quero só palavras minhas nesta hora
Sábado, 24 de Abril de 2004
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Tempo de não tempo de sim
Sexta-feira, 23 de Abril de 2004
"Coimbra, 25 de Abril de 1975 - Eleições sérias, finalmente. E foi nestes cinquenta anos de exílio na pátria a maior consolacão cívica que tive. Era comovedor ver a convicção, a compostura, o aprumo, a dignidade assumida pela multidão de eleitores a caminhar para as urnas, cada qual compenetrado de ser portador de uma riqueza preciosa e vulnerável: o seu voto, a sua opinião, a sua determinação. Parecia um povo transfigurado, ao mesmo tempo consciente da transcendência do acto que ia praticar e ciente da ambiguidade circunstancial que o permitia. O que faz o aceno da liberdade, e como é angustioso o risco de a perder! Assim os nossos corifeus saibam tirar do facto as devidas conclusões. Mas duvido. Nunca aqui os dirigentes respeitaram a vontade popular, mesmo quando aparentam promovê-la. No fundo, não querem governar uma sociedade de homens livres, mas uma sociedade de cúmplices que não desminta a degradação deles. "
Miguel Torga, in "Diário XII"
"Coimbra, 25 de Abril de 1991 - A eloquência doméstica no seu esplendor anual, a sujar de retórica uma data que muitos e em muitos e largos anos de sofrimento sonharam limpa. Mas a realidade é sempre cruel. E o natural é que os nossos representantes oficiais nos representem. Que amesquinhem a nossa pequenez a engrandecê-la com frases ocas, como nós a apoucamos elegendo-os, e nos exaltem a liberdade que devemos à generosidade de heróis que tivémos de combater logo no dia seguinte ao da generosidade. "
Miguel Torga, in "Diário XVI"
A ilustração reproduz um trabalho realizado em 1996 pelas crianças do 1º e 2º ano da Escola Primária de Levegadas, Lousã.