Quinta-feira, 8 de Abril de 2004

Páscoa

pascoa7.gif



Não, palavra que não vou falar sobre a Páscoa cristã, a Pessach judaica, o início da Primavera, os rituais de fertilidade, nem nada disso… Só quero desejar a todos os que por aqui passam uma Feliz Páscoa. Aqui o cantinho vai ficar muito sossegado até ao fim da semana. Se quiserem usar o espaço para desejar Boa Páscoa uns aos outros, estão à vontade! Muitas amêndoas, muitos ovinhos de chocolate, celebrem o que quiserem, mas sobretudo…Fiquem bem! Beijinhos e abraços.


PS – para quem tem crianças, deixo aqui dois links de sites engraçados relativos à Páscoa


O Coelho da Páscoa




Pintar - Páscoa Feliz


publicado por lique às 07:50
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Quarta-feira, 7 de Abril de 2004

Parabéns, filhota!

beauty.jpg


Parem o tempo.
Parem tudo!
Parem o Movimento,
o Mundo, o Universo.

Parem o Pensamento,
E olhem o que fica:
Cada rosto, cada flor,
cada estrela continua a brilhar.

O silêncio dá espaço a novos sons.
Inventem-nos!
Falem por gargalhadas,
riam-se por palavras,
façam canções com as gotas da chuva.

Substituam os velhos sentimentos
por novos, ainda por estrear.
O ódio pelo amor,
A vergonha pela alegria,
O medo pela coragem.

Apaixonem-se pelo sol e pelo mar.
Admirem as pessoas como paisagens.
Vamos dar as casas aos animais,
E viver nas árvores.
Vistam-se de nada,
Queimem a água,
Bebam o fogo
Impeçam o inevitável
e relembrem com saudade
o inimaginável.



Ana D.



Escrito pela Ana que faz hoje 24 anos



publicado por lique às 12:39
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Café - XXII

writing.jpg

Bati com o pé no deserto
e não nasceu uma fonte...

Toquei numa rocha
e não se cobriu de açucenas...

Beijei uma árvore
e o enforcado não ressuscitou...

Amaldiçoei a paisagem
e não secaram as raízes...

Digam-me lá: para que diabo serve ser poeta?
(Os santos são mais felizes.)




José Gomes Ferreira, Poesia - III

publicado por lique às 00:00
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Terça-feira, 6 de Abril de 2004

Kant

Kant tinha uma árvore para a qual olhava enquanto meditava. Eu tenho uma paisagem de telhados semeados de antenas de televisão. Kant passeava pelas ruas da cidade e contava os passos que dava e verificava se eram ou não os mesmos. Eu ando de carro a grande velocidade a pensar: é agora ou não que vou guinar para a esquerda, terá por fim chegado a hora da minha morte, como será, deixa-me ir ver? Kant recebia muito cordialmente os amigos em casa e cada um contava uma história, semana sim semana não, inventada. Eu procuro a verdade no que digo e fico muito atrapalhado porque não encontro nada. Kant era baixo e feio e ensinava o que não gostava. Eu gostava de ser bonito e alto e continuo a ignorar coisas essenciais. Porque é o céu azul? Porque é o mar salgado? Porque gosto tanto de beijar os teus lábios? Kant fica calado e depois começa: dadas as condições de possibilidade, etc., etc.



Pedro Paixão, Nos teus braços morreríamos

publicado por lique às 08:30
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Segunda-feira, 5 de Abril de 2004

A gata preta

blackcat.gif

Olhou lá para fora e viu que estava um belo domingo de sol. Tentou não prestar atenção ao ruido da televisão e ler o livro que tinha nas mãos. A gata preta espreguiçou-se no quadrado que o sol fazia no chão da sala. Reparou que o pelo dela parecia absorver toda a luz e o calor. Sentindo-se observada, a gata mexeu uma orelha e abriu os olhos. Parecia enfadada com aquela atenção.
Pensou para consigo que a vida de gato até nem era má. Os gatos conseguem sempre ser os donos da casa. Quando se abre a porta a um gato, entrega-se-lhe o seu território. Aquela passa a ser a sua casa e os humanos devem sentir-se honrados quando ele lhes concede a sua amizade (afinal para que é que serviam aquele roçar sensual e aquelas marradinhas?).
O olhar desviou-se da gata e passou pela sala. Achou que estava desarrumada, mas já era habitual. Não conseguia manter aquela casa em ordem, provavelmente porque essa nunca tinha sido uma das suas prioridades. Tentou outra vez ler o livro. Já sabia que durante a semana não ia ter tempo.
Sentiu o cheiro e o calor da casa e pensou há quantos anos ali vivia... Teve uma sensação mista de familiariedade e desconforto. Se fosse dar uma volta lá fora, talvez passasse. Mas sentiu uma grande preguiça. Olhou para a gata e sorriu.
Na televisão, o filme de que só estava vagamente a ouvir o som, chamou-lhe a atenção. Era com Nicholas Cage, sobre qualquer coisa ligada ao que poderia ter sido a vida de um homem se tivesse tomado outra opção, a determinada altura. Pensou que aquele começava a ser um tema recorrente, no cinema. Opções, escolhas e que elas implicam.
Olhou a gata preta e sentiu-a perfeitamente tranquila, sem medos, gozando o sol daquele domingo. Voltando ao filme, interrogou-se sobre o que teria sido a sua vida, se as escolhas tivessem sido diferentes. O sol brilhava quente mas um arrepio que não sabia se era de medo ou excitação, percorreu o seu corpo.
publicado por lique às 09:08
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