Quinta-feira, 19 de Agosto de 2004

Como imaginam, tinha que ir ver o filme, para o que foi necessário ir até Lisboa. Aqui na santa terrinha, embora não haja falta de salas de cinema, não deve ter sido considerado suficientemente comercial para que as grandes distribuidoras cá o trouxessem. Já tinha ouvido muitos comentários, muitas críticas, enfim não era filme para o qual fosse virgem de opiniões. E também tinha, à partida, a minha implícita simpatia pelo trabalho de Michael Moore.
Necessário se torna, antes de mais, dizer que tenho plena consciência que os filmes de Michael Moore reflectem a sua militância, neste caso anti-Bush e guerra do Iraque. Alguns comentários que li acusavam o filme de não ser isento e deve ser realçado que não o pretende ser. É claramente um filme que pretende contribuir para a não reeleição de Bush, mais que para a eleição de Kerry, sendo que, se este ganhar e situações semelhantes às criadas por Bush se repetirem, Moore estará lá para o denunciar. Neste contexto, as armas utilizadas são semelhantes às usadas na propaganda dos adversários: manipulação de algumas imagens (que não se pretende esconder, aliás), apanhados de Bush em expressões, frases, atitudes que em tudo contribuem para o tornar ridículo (não é preciso muito esforço, também).
Cinematograficamente, tendo que eleger o melhor do filme, diria que o que mais me agradou foi:
1-o tratamento dos acontecimentos de 11 de Setembro, inicialmente só com som e a seguir com imagens contidas de dor. Não há nenhuma exploração barata das imagens que correram mundo.
2-a evidência dos traumas causados nas famílias americanas pelos recrutamentos e pelas mortes de soldados no Iraque, a partir de uma família da cidade natal de Moore, a mais que pobre e degradada cidade de Flint, Michigan.
Em termos documentais, pois que dum documentário se trata, tem que ser realçado:
1-a denúncia das ligações da família Bush e dos grandes grupos financeiros americanos (entre eles o grupo Carlyle, aquele que por aí anda
) à família Bin Laden e aos magnatas da Arábia Saudita
2-a demonstração da facilidade com que se destroem as liberdades fundamentais dos cidadãos em nome da segurança e através da cultura do medo, fazendo aprovar no Senado o Patriotic Act que nenhum dos senadores leu.
Aquilo de que menos gostei, embora seja o que tem o impacto mais imediato, foi a excessiva caricaturização da figura de Bush. O homem é de facto um bronco ridículo, mas
Tudo isto somado, aconselho quem não viu a ir ver. Não é isento, faz campanha anti Bush, anti-negociatas dos grandes grupos que tanto esperam ganhar com a guerra, anti-guerra e defende as minorias da América e o povo iraquiano. Não defende o terrorismo. Osama Bin Laden e a Al Qaeda são sempre apresentados como terroristas. É um filme de uma época, de uma causa. Michael Moore é um americano, patriota q.b. que se interroga sobre a cultura do medo em que os americanos vivem e cujas obras, obviamente, incomodam quem lucra com essa mesma cultura. E ficamos a saber um pouco mais sobre as verdadeiras razões pelas quais tanta gente morre nas guerras deste mundo, neste exacto momento.
Quarta-feira, 18 de Agosto de 2004

Quero a vida em azul
Não verde
Não cinza
Azul
Sei que nada original
É uma vida em azul
Não é vida de mar
Cinza, branco, castanho
Nem é vida de céu
Branco, laranja, vermelho
Eu não sou original
Vivo a vida dia a dia
Só quero vivê-la assim
Em azul.
Terça-feira, 17 de Agosto de 2004

A Nê-Nê cresceu e fez-se mulher. E nesta altura eu só me lembro da bébé pequenina e magrinha que não queria comer, da menina que eu deixei angustiada na escola infantil, da criancinha de totós que, a partir da primária, começou a mostrar que não era tão frágil assim
Da adolescente de modas loucas que ouvia os Doors exaustivamente (The end, my friend
) e que entrou na Universidade sem saber bem o que queria. Dos trambolhões de percurso, das depressões e do meu orgulho ao vê-la esboçar um caminho
Depois existe a Inês doce e amarga, suave e brusca e, também, tão amiga e tão cúmplice em tantas situações. A Inês mulher com quem eu, mãe, me preocupo mas a quem só tenho que desejar que encontre plenamente o seu caminho, que confie em si própria e nas inúmeras provas de inteligência e capacidade que já deu. A vida não é um mar de rosas mas também não é só espinhos. Há que voar (está na moda isto
) e encontrar a forma de ser feliz, acreditando em si e nos outros. Só isso: abrir o coração e acreditar. E não desistir nunca. Quero dar muitos beijinhos à Nê-Nê e dizer à Inês que eu estou cá, para tudo. E oferecer-lhe estas flores silvestres, aquelas de que ela mais gosta.
Segunda-feira, 16 de Agosto de 2004

Contrária a mim
agora me encontro
sem um porquê.
Olho só em frente
virada de costas
sem norte certo.
Não sei de caminhos
de rumos marcados
Saberei de mim?
Quadro: Julie Carter
Domingo, 15 de Agosto de 2004
Hoje decidi ser do contra. Mesmo do contra de mim.
Não vou escrever do
meu rio, da
montanha, da
brisa, das
pegadas na areia.
Não vou fazer jogos de palavras em
poemas que ninguém entende (se calhar, nem eu). Não vou falar do trabalho, das
reuniões, das não decisões.
Não vou pôr para aqui a falar
objectos inanimados. Isso é coisa de loucos.
Não vou dar um destino à
D. Fátima. A
engenheira também não tem motivo para falar do seu destino.
Não vou reclamar da
política, do governo, da política do governo nem do desgoverno da política.
Não vou insurgir-me contra
as injustiças do mundo e os seus carrascos, lamentar os que sofrem, os que morrem, os inocentes.
Nem sequer vou falar da visão da vida
através do vidro já fosco, aqui onde a atmosfera continua, por vezes, rarefeita.
Hoje não há conversa que me apeteça ter. Não é tristeza, desilusão ou desânimo. O problema é só um: o dia amanheceu com ar de contradição.