Sexta-feira, 31 de Dezembro de 2004
Um ano novo. Um ano a estrear como um caderno de folhas em branco onde vou escrever os meus dias. Era bom poder decidi-los assim, escritos em papel branco, pela minha única vontade e sem condicionantes. E daí, talvez não. Talvez a decisão de um dia condicionasse automaticamente a do dia seguinte. Assim é a nossa vida, um encadeado de decisões que, uma vez tomadas, nos vão abrindo uns caminhos e fechando outros.
Neste 2005 que se avizinha a passos largos todos querem procurar a felicidade. Não são esses os votos que se fazem? Um ano muito feliz. Sabendo, de antemão, que o ano não irá ser feliz assim, completamente. Terá dias felizes e infelizes, tristezas e alegrias. Como todos os anos.
Em 2004 trilhei caminhos que não esperava. Alguns suaves, outros cheios de armadilhas escondidas em cada curva. Verdadeiramente, acho que todos me ajudam a encontrar um outro caminho que eu procuro. Que, se calhar, procuramos todos. Aquele que nos permite encontrar um sentido para a nossa vida. 2005 será apenas mais um compartimento do tempo que, venha o que vier, me ajudará a entender-me e a entender os outros. Todas as experiências, todas as vivências nos dão qualquer coisa que para isso contribui. Visto assim, até estou ansiosa por este ANO NOVO!
Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2004
São Natais que passam, uns após outros. Natais da infância, juventude, idade adulta
Criança, rapariga, mulher, mãe
um ciclo de vida. Porque é que dividimos o tempo? Na realidade é um contínuo. O Natal, o fim do ano não interrompem nem começam nada. Mas nós temos a ilusão que sim. Pensamos que podemos mudar a vida no ano que começa, pensamos que o Natal vai ser um estado de graça que nos vai dar a paz que não temos. Pensamos tanta coisa
Este Natal, eu sei que não vai ser alegre, apesar de ter a família completa. Vai ser estranho. Começa a ser estranho hoje. Estranho-me a mim e a todos à minha volta.
Por vezes, uma frase, até uma simples palavra dita numa conversa banal tem o poder de nos acordar todas as inquietações. Aconteceu hoje. Sei que não era essa a tua intenção. Mas a angústia ficou. E vai ficar, como uma nota aguda por cima da possível felicidade. Aquela nota que nos arrepia quando a mais bela música toca. Não tenho, por agora, o poder de a afastar. E talvez ela seja indispensável na música que me acompanha
Sexta-feira, 17 de Dezembro de 2004
Hoje sinto-me docemente embalada em emoções contraditórias.
Lembro-me de ti. Lembro-me de tudo.
A casa começa a ficar com aquele ar de antecipação de festa que, ao mesmo tempo, me encanta e me deprime. Nunca consegui explicar a dualidade de sentimentos que esta época me inspira. Nunca consegui escapar deste sentimento de angústia que todos os Natais volta e me agarra.
Lembro-me de ti. Lembro-me de tudo.
Sei que este vai ser um Natal diferente. Paira uma sombra por aqui. Uma sombra que começa a impôr a sua realidade, a tornar-se concreta. Não me sinto muito capaz de a enfrentar. Sempre me senti impotente perante esta ameaça.
Lembro-me de ti. Lembro-me de tudo.
A tua lembrança (meu escudo de calor) faz-me desejar que tudo corra bem, que tudo se resolva por aqui. Preciso dessa certeza, dessa paz.
Tu partes também.
Afinal que é o Natal? O repetir de gestos e reuniões familiares, sempre iguais? As prendas que se dão porque tem que ser? Ou até as que se dão porque amamos as pessoas? Os cânticos, os dourados, as luzes? A ilusão de um mundo perfeito?
Lembro-me de ti. E vou lembrar-me de tudo até que voltes.
Sábado, 11 de Dezembro de 2004
O frio hoje entra por onde não há frestas visíveis. Impregna tudo à minha volta. Será que o frio entra em mim ou sai de mim? Nem consigo perceber. Enrolo-me em posição fetal procurando encontrar algum calor. Sei que quando fizer as pazes comigo, o frio desaparecerá. Quando me reencontrar, pessoa inteira sem muletas na alma nem emoções de empréstimo. Talvez então consiga encontrar outros sóis, outros mares, outras paisagens. Talvez volte a haver calor na minha vida. Mas hoje tenho tanto frio!
Sexta-feira, 10 de Dezembro de 2004
Vamos jogar um jogo de cartas?
Baralha bem os teus sentimentos
Vê se as palavras não estão viciadas
Decide já se o trunfo é amor
Vai distribuindo números sedutores
Eu colecciono vasas de paixão
Ambos sabemos que ao jogar os ases
Vamos pôr a nu qual a nossa mão
Sabemos que o jogo chegará ao fim
Todas as cartas serão reveladas
Quem vai ganhar ou sai perdedor
Continua incógnita no jogo do amor