Sexta-feira, 2 de Julho de 2004

Na manhã escaldante, saí da brisa do mar para a mesma cidade de sempre. Subi as longas escadas, percorri os corredores que a beleza podia habitar se não tivesse sido escorraçada por pilhas de papéis amarelos, bafientos, contendo decisões adiadas perdidas no tempo.
Comecei a manhã de puro tédio, de insistente monotonia. Há destinos a decidir de anónimos com nome que esperam lá situados na NUT () Zona () Concelho (). Na opinião de alguns pequenos poderes ( de hoje, amanhã talvez já não) decide-se, após alguma discussão, que
neste momento não se pode tomar uma decisão.
Na volta, o sol fere-me os olhos e as cores desta cidade em festa parecem-me irónicas. No comboio, sou embalada pelo som do harmónio da pobreza deste país, original ou importada. E uma esmolinha que não como desde ontem
que tenho oito filhos para criar
que tenho sida, tuberculose, um turbilhão confuso de desgraças a toldarem o sol. Lembro-me dos outros, dos anónimos cujos nomes me passaram pela mão, esperando decisões que aguardam aqui, na cidade de sempre, em manhãs escaldantes de puro tédio.
De Anónimo a 3 de Julho de 2004 às 09:38
Sara: obrigada pela forma tão atenta de ler e tão generosa no comentar. As minhas idas a Lisboa por força de reuniões de trabalho dão-me às vezes vontade de gritar... Como para gritar sem me internarem teria que ir para um sítio deserto (onde aqui?) , acabo por escrever. Beijinhoslique
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De Anónimo a 3 de Julho de 2004 às 09:33
M.P. também esses, amiga, dependem de soluções adiadas. Não é a pobreza mais óbvia mas é, se calhar, a mais sofrida. Tudo isso tem a ver com este país adiado. Beijinhoslique
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(mailto:lique2@sapo.pt)
De Anónimo a 3 de Julho de 2004 às 09:30
o5elemento: Olá biquinha! Já nos conhecemos lá do Blog da LibeLua, mas ainda não deu para ir conhecer o teu blog pessoal. Hoje ou amanhã, talvez. Se estivéssemos a falar do meu post dos sinais, diria que os teus são inconfundíveis. Deste post, é enfado, sim, e tristeza pelo adiar de tantas resoluções. Algum dia este país mudará? Cabe-nos a nós, tenho eu própria dito por aí... Bjslique
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(mailto:lique2@sapo.pt)
De Anónimo a 3 de Julho de 2004 às 00:15
São manhãs em que o mundo se empoeira e pára e o sol nos esmaga de indecisão. Não te sabia pintora. Lisboa veio-me desembocar na memória tal qual a viste, tal qual a sei e não lembro já...
Nos subúrbios o tédio não tem sons. É um mar de betão sem gente, nem pobres, só remediados... Mas sente-se. Não hoje particularmente que estou em paz com o mundo... e vou dormir com uma réstia de enterdecer no olhar. Lique, gosto de textos que falam do quotidiano. Acho que devias explorar também esta vertente. Cesário teria inveja.
deSaraComAmor
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De Anónimo a 2 de Julho de 2004 às 23:05
Cheguei aqui tarde mas cheguei... É verdade que tudo se adia neste país adiado... é verdade que é perturbante essa pedinchice de necessidade real mas tantas vezes inventada... Mas... porque não se continua a falar na pobreza que se esconde e tem vergonha e medo de dar a cara de pobre?? Que se tem feito por esses que calam o que não têm?? Deixo a pergunta no ar...
Bom fim de semana.. **M.P.
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De Anónimo a 2 de Julho de 2004 às 22:59
{ ... espero que teu tédio*de enfado se trate e não o tédio*de desgosto enfarte
*( de enfartar ) © biquinha ... }{ ... bom fim de semana ... }{ beijos* }
o5elemento
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De Anónimo a 2 de Julho de 2004 às 22:56
Analfabeto: eu gostava era que batesse na tola de alguns pequenos e grandes poderes! Estás a ver, isto hoje está assim... Bjslique
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De Anónimo a 2 de Julho de 2004 às 22:55
maat: é mesmo esta a realidade, se nos dermos ao trabalho de ver. E há dias em que é difícil de suportar. Beijinhoslique
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De Anónimo a 2 de Julho de 2004 às 22:52
Grilinha: disto de injustiças e incompetências sabes tu de cátedra! Mas mantens o sorriso. Já fui ver o meu cachecol, até onde vai o cordão? Tenho que lá voltar. Beijinhoslique
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De Anónimo a 2 de Julho de 2004 às 22:50
Betty: pode, de facto. Eu amo aquilo que tenho, gostava era de não ver tanta tristeza nos outros, sabes, aqueles outros que ou são anónimos ou invisíveis. beijinhoslique
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