Excerto do Diário de Adão
Terça-feira
Estive a examinar a cascata. É o melhor do parque, penso. O novo ser chama-lhe Catarata do Niagara porquê? , não compreendo. Diz que
parece a Catarata do Niagara. Isso não é razão. É um mero devaneio e imbecilidade. Não posso nunca dar nome a nada. O novo ser dá nome a tudo que aparece antes de eu poder esboçar um protesto. E o pretexto é sempre o mesmo:
parece ser aquilo. Por exemplo um dodo, diz que, logo que se avista um, percebe-se que
parece um dodo. Vai ter de passar a chamar-se assim, sem dúvida. Desgasta-me tentar discutir sobre isso e nem vale a pena, de qualquer maneira. Dodo! Parece-se tanto com um dodo como eu!
Excerto do Diário de Eva
Quarta-feira
Agora estamos a dar-nos melhor, com efeito, e a conhecermo-nos cada vez melhor. Ele já não tenta evitar-me, o que é um bom sinal, e demonstra que me gosta de ter ao lado. Gosto muito disso e eu estudo para lhe poder ser útil todos os dias, sempre que posso, para subir na sua estima. Nos últimos dois ou três dias tirei-lhe dos ombros o fardo de dar nomes às coisas e isto deixou-o porque ele não tinha o mínimo jeitinho para isso e está-me muito grato por isso.
Quando apareceu o dodo ele pensava que era um gato selvagem vi-o nos seus olhos. Mas eu salvei-o. E fi-lo com o cuidado de não o ferir no seu orgulho. Limitei-me a falar alto de forma natural num tom de agradável surpresa, e não como se estivesse a tentar convir qualquer tipo de informação: Ora, se não é um dodo! e expliquei, como quem não está a explicar, como é que eu sabia que era um dodo e ainda que eu ache que ele ficou um bocado melindrado por eu saber que bicho era aquele e ele não, foi bastante claro que ele me admira.
Mark Twain, Excertos dos Diários de Adão e Eva