Segunda-feira, 3 de Maio de 2004

Filhos da época

szymborska.gif


Somos filhos da época
e a época é política.

Todos os teus, nossos, vossos
problemas diurnos e nocturnos
são problemas políticos.

Quer queiras quer não,
os teus genes têm passado político,
a pele um tom político,
os olhos um aspecto político.

O que dizes tem ressonância,
o que calas tem expressão,
seja como for, política.

Mesmo passeando pelo campo,
dás passos políticos
em solo político.

Poemas apolíticos são também políticos
e lá em cima brilha a lua,
unidade que deixou de ser lunar.
Ser ou não ser, eis a questão.
Que questão, diz, querido.
A questão política.

Nem é preciso ser humano
para ganhar importância política.
Chega que sejas petróleo,
ração composta ou matéria reciclável.

Ou a mesa de debate,
cuja forma foi discutida meses a fio:
em que mesa se negoceiam a vida e a morte?
Redonda ou quadrada?

Enquanto pereciam homens,
morriam animais,
ardiam casas,
tornavam-se os campos bravios
como nos tempos antigos
e menos políticos.


Wislawa Szymborska, Alguns gostam de poesia. Antologia




A autora é polaca e recebeu o Prémio Nobel em 1996. O livro, com poemas de dois autores polacos e tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves, foi-me dado pelas filhotas no dia da mãe.

publicado por lique às 17:45
link do post | quer comentar? | favorito
29 comentários:
De Anónimo a 4 de Maio de 2004 às 12:15
o(au)pé, é um problema de teclado que resolverei em brevePantanero
(http://pantanero.blogs.sapo.pt/)
(mailto:zh1951@sapo.pt)
De Anónimo a 4 de Maio de 2004 às 11:26
Ou eu estou enganado, ou este poema é um poema à cidadania política... E sobre viagens a Paris, noto que, raramente o cemitério do Père Lachaise faz parte do itinerário dos visitantes. É um local de profundo recolhimento. Estar au pé de Paul Eluard, Édit Piafh, Simone Signoret, entre outros, e sobretudo, estar au pé do Muro dos Federados, onde em 1871 foram fuzilados os últimos “Communards” de Paris e ainda hoje se reconhecem o impacto das balas. Na próxima visita não esqueçam de lá ir.

Pantanero
(http://pantanero.blogs.sapo.pt/)
(mailto:zh1951@sapo.pt)
De Anónimo a 4 de Maio de 2004 às 08:56
parabéns pelas filhotas:) e o texto é absolutamente verdadeiro!encandescente
(http://eroticidades.blogs.sapo.pt/)
(mailto:encandescente@sapo.pt)
De Anónimo a 3 de Maio de 2004 às 23:28
Olá lique

Paris é uma cidade que se visita sempre.
nela nos perderemos facilmente, nela nos poderemos esgotar a visitar museus e palácios sumptuosos, nela podemos vaguear nas margens do Sena, em MontMartre, Madelaine, onde nos apetecer até nos darmos conta que a ruazinha que ladeia, pela esquerda, o trocadero (estaremos de costa para a Torre) se chama Luis de Camões, nela - o que acho que poderá ser difícil - nos poderemos até aborrecer, se para isso também for possível fazê-lo com elegãncia, glamour, sei lá qu~e mais.
Já lá estive duas vezes e partia agora mesmo para lá!
Quanto ao nosso poeta polaco, deverá estar exultante: primeiro foi a luta de Gdansk, agora é a integração na UE. falta tudo, mas a Polónia chegará ao nível dos grandes rapidamente.
BjsJose Duarte
(http://melnofrasco.blogs.sapo.pt)
(mailto:jpduarte@sapo.pt)
De Anónimo a 3 de Maio de 2004 às 22:37
boa noite, cá estou eu, de novo, não em Paris, mas na política. Desconheço a autora, mas comungo das ideias expressas. Tudo é política, até o meu actual semi alheamento o é. Esclareço: da política partidária, não de continuar a lutar pelos valores que sempre me orientaram. Com permissão, vou colocar o teu link no meu 'sulanorte', ficas muito mais pertinho. Noite boa. **adesse
(http://sulanorte.blogs.sapo.pt e http://sulparati.weblog.com.pt)
(mailto:skuld_m@hotmail.com)
De Anónimo a 3 de Maio de 2004 às 21:09
Cartas. Memórias. Estórias, políticas, sempre.
Gostariamos que participasses como autora no nosso novo blogue. Ora esguardai...

Lolita
(http://bloguedecartas.blogs.sapo.pt/)
(mailto:violeta_2002@mail.pt)
De Anónimo a 3 de Maio de 2004 às 20:21
Mais uma escritora que não conhecia. Que vergonha:) De facto tudo é político, o ser, estar, sentir , agir. Acho que o poema "diz" tudo. Gostei muito:-) bjswind
</a>
(mailto:cruzi@netcabo.pt)
De Anónimo a 3 de Maio de 2004 às 19:14
Já o nosso Badaró cantava "É POLITICA!!"
. Por isso, nada de novo, que venha de fora, mesmo quando a nossa politica dentro de portas nos trama em nome de coisa nenhuma ou de interesses que não são os nossos. Assim, e também da nossa receita caseira e tradicional, " O QUE FAZ FALTA É AVISAR A MALTA !!!"MAC
</a>
(mailto:galileu60@hotmail.com)
De Anónimo a 3 de Maio de 2004 às 18:42
Sua vaidosa, a expôr as prendinhas ... ! lindas meninas, hem! Beijinhos para ti e para elas. Após o à parte, digo-te que vinha lançada para comentar Paris... mas já lá vou. Primeiro este post : claro que tudo é político, até o simples acto de falares a estes e não àqueles, fazendo zoom e "aproximando", direi que também é político, ler uns blogs e ignorar outros... certo??? Agora Paris : não tive a mesmas reacção ao frio que tu... e já lá tremi bastante os dentes!!! gosto de Cidades grandes deve ser desta minha veia "alfacinha". Em Paris, já fiquei instalada em hotéis no 1º bairro, na Madeleine, nos parques de campismo de Vincennes e Bolonha, em hotel da Fórmula 1... já lá fui de carro, em circuito organizado, de avião, de camioneta... seja da forma que for a Cidade é minha: instalo-me, aproprio-me dela e estou como peixinho na àgua... Se fôr inverno, ando nas ruas interiores que vêm de vichy quase ao sena, centro pompidou, palácio japonnais, etc, de verão, esplanadas, tulleries, champs ellisées, le petit e grand palais, musée d'orsay, saint germain de prés, jardins chatillon, montparnasse, et voilá... pour moi paris c'est toujour paris! Agora Lique, mulher que gostas de cidades com rios no meio, (onde é que eu já li isto?) vais amar Praga, rio ao meio, linda cidade Lique! pega nas filhotas e vai, mulher, nesta Primavera, não percas tempo, vai! beijos
ema.pi
</a>
(mailto:ema.pi@sapo.pt)

Comentar post