
Hoje de manhã saí cedo para ir fazer umas compras ao mini-mercado cá do bairro (ajude o comércio local!). Precisava levar uns produtos de charcutaria e fui até ao balcão onde um homem aí dos seus quarenta e tais atendia as clientes (só ali estavam mulheres). Esperei pela minha vez e, quando a senhora à minha frente acabou a interminável quantidade de coisas de que se ia lembrando (olhe, já agora, dê-me aí mais 100 gramas de fiambre), ouvi o homem dizer
- Então jovem o que vai ser?
Olhei para todos os lados, já a pensar que o raio do homem tinha desrespeitado o meu lugar na fila para atender alguma Barbie muito loura e alta que lhe tivesse entrado pela loja dentro. Já me preparava para refilar à grande, como infelizmente é meu hábito, quando reparei que não havia mais ninguém na fila. Só eu. E o homem insistiu:
- Jovem, vai desejar alguma coisa?
Era comigo, portanto. Um bocado atabalhoadamente lá lhe disse o que queria e pensei que o homem devia ser completamente míope ou, dado que eu sou assim para o baixito, não conseguia ver-me lá de trás do balcão. Enquanto ele tratava da encomenda, assim como quem olha para a vitrine com aquelas carnes todas expostas e procura escolher qualquer coisa, deslizei para onde me pudesse ver bem. Ele entregou-me o saco com as compras e disse:
- Mais alguma coisa, jovem?
Ah, decididamente, quando saí para a rua o sol brilhava muito mais, o céu estava tão azul que até feria os olhos e os passarinhos cantavam tal qual como naqueles anúncios que fazem referência à Primavera. E , embora já me tenha ocorrido que, além de miopia, o senhor sofria certamente de algum atraso mental ou então aquele era o discurso que ele fazia para qualquer mulher com menos de oitenta anos, ninguém consegue tirar-me este sorriso estúpido que se colou na minha cara!