Um conto de um mentirosoLevantei-me de manhã, calcei os pés descalços, abotoei as botas po baixo das solas, coloquei o calçado para a neve no cinto, atei o bastão em torno do corpo e apoiei-me ao cinto. Não enveredei por nenhum caminho ou estrada, tirei cortiça ao monte, avistei um lago sobre um pato, puxei do machado e arremessei-o. Porém caiu muito perto e efectuei segunda tentativa e vi que caíra excessivamente longe, pelo que tornei a experimentar e atingi o alvo, mas de lado. O pato levantava ondas e o lago partiu a voar dali.
Saí para o campo aberto e vi, por baixo da azinheira, que uma vaca ordenhava a camponesa. Disse eu:
- Dás-me cântaro e meio de leite doce, mulherzinha?
Ela enviou-me à casa de Parte Alguma da aldeia Desconhecida e parti para lá, onde o amassador se dedicava à tarefa de amassar a camponesa. Disse eu:
- Dás-me um pouco de massa, mulherzinha?
Ela retirou o amassador da batedeira e atirou-mo à cabeça. Afastei-me a correr e ouvi um latido pouco animador. Com que me poderia defender? Vi então que em cima do trenó havia uma rua, montei nele e, com o latido a uivar-me aos ouvidos, fui para casa e adormeci devido a tanta preocupação.
O Palácio dos Contos - Contos Russos, compilação de Ulf Diederichs
Ilustração - Lucia Probst