Sábado, 17 de Abril de 2004

Para que ninguém se esqueça (III) - Pérolas da ideologia

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Sobre as colónias

Salazar, 1957:

“Nós cremos que há raças, decadentes ou atrasadas, como se queira, em relação às quais perfilhámos o dever de chamá-las à civilização – trabalho de formação humana a desempenhar humanamente. Que assim o entendemos e praticamos comprova-se pelo facto de não existir a teia de rancores ou de organizações subversivas que se apresentem a negar e aprestar a substituir a soberania portuguesa”

Só para esclarecer:

Em 1955 tinha sido criado o Partido Comunista de Angola e , logo de seguida, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Em 1956 tinha surgido o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Em 1959 começaram os primeiros movimentos emancipalistas em Moçambique.




Sobre o Estado Corporativo

Marcelo Caetano, 1935:

“Somos um país onde o Estado é a Providência”

Salazar, 1931:

“ As condições sociais portuguesas não permitem (…) fazer cousa que perdure, independentemente dos actos da autoridade, ou seja, da intervenção da lei.”




Sobre a educação

O Decreto Lei 21014, de 19 de Março de 1932 , determina que os poucos livros aprovados oficialmente ( antes da introdução do livro único) contenham um conjunto de máximas de que se salienta:

“Obedece e saberás mandar”

“Na família, o chefe é o pai; na escola, o chefe é o Mestre; no Estado, o chefe é o Governo”

“No barulho ninguém se entende., é por isso que na Revolução ninguém se respeita”

“ Se tu souberes o que custa mandar, gostarias mais de obedecer toda a vida”


O Decreto nº27279 de 24 de Novembro de 1936 que encerra escolas do magistério primário e cria uma rede de postos escolares, afirma no Preâmbulo:
“….o problema da educação popular só pode ser resolvido (…) por meio da maior difusão de postos escolares, forma embrionária da escola elementar. Instalada como esta, em edifício próprio, devidamente apetrechado, regido por quem possua idoneidade comprovada, na falta de um diploma tantas vezes só decorativo, e fiscalizada a sua acção, o posto escolar será a escola aconchegada da terra pequenina…”

Em 1940 havia 2200 regentes escolares , normalmente cidadãos com escassa preparação mas considerados idóneos pelo pároco local.



Sobre a mulher

Editorial da Revista Feminina:

“ A Revista Feminina destina-se principalmente às senhoras que vivem mais para os seus deveres, para as suas obrigações, para as exigências e necessidades – do lar que para os caprichos da moda (…) Com efeito a moda feminina é corruptora – e corrompe. E nem só a moda de vestir. O teatro, o cinema , a dança, são outros tentos elementos de perturbação social, de desorientação, contribuindo poderosamente para que os falsos critérios dissolventes tomem o lugar das velhas e sãs noções…”



Fonte: Portugal Contemporâneo, Publicações Alfa


publicado por lique às 20:03
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23 comentários:
De Anónimo a 18 de Abril de 2004 às 18:08
Ema: bem vinda! Isto têm sido tudo férias? Realmente tudo isto já foi, mas determinou muito aquilo que hoje somos e as razões porque muitas vezes não tomamos o nosso destino nas nossas mãos. E tudo o que nos toca perto, dói claro. Por isso lembramos e, de certa forma, exorcizamos as lembranças. Beijinhos. Bom resto de domingo!lique
(http://mulher50a60.blogs.sapo.pt)
(mailto:lique2@sapo.pt)
De Anónimo a 18 de Abril de 2004 às 15:48
Olá Lique, tenho acompanhado este teu empenho em trazeres à "superfície" factos que felizmente, já eram!!! hoje em dia o Mundo não é um lugar tranquilo... mas aquilo que nos é próximo dói sempre mais, não é? beijos e bom domingoema.pi
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(mailto:ema.pi@sapo.pt)
De Anónimo a 18 de Abril de 2004 às 12:24
ângela: Bom dia! Pois lá do teu lado também já vi que estás a relembrar como era há trinta anos atrás. Não somos demais, amiga. Nesta semana que começa devíamos ser muitos a lembrar. Quanto ao teu primeiro comentário, só te digo que o mundo é virtual mas os actores são humanos...com tudo o que de bom e (muito) mau isso acarreta. Beijinhoslique
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De Anónimo a 18 de Abril de 2004 às 11:31
(Desculpa, Lique, mas fiquei chocada com o que se passa neste mundo virtual, supostamente democrático - não queria contrariar o teu desejo de não comentar)
Vamos lembrar e relembrar até à exaustão: parece que é o pouco que nos resta para fazer. Ao menos que não fique esquecido. Eu estava a acabar o liceu... Vou deixar esta herança às minhas filhas, gostava que fosse real e não uma história contada. Continuemos. Ainda há muito para dizer! Bejinhos!
ângela
(http://blogoescrevo.blogspot.com)
(mailto:marquesangela@hotmail.com)
De Anónimo a 18 de Abril de 2004 às 11:29
Henrique Prior: Obrigada pela visita e pelo comentário. Claro que é importante lembrarmos com era para percebermos tudo o que jaz na nossa herança histórica. lique
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De Anónimo a 18 de Abril de 2004 às 11:27
Encandescente: tu tens valor e é só isso que conta! Continua a escrever, como diz o porquinho, concentra-te no essencial! Eu irei sempre ler-te. :))*lique
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(mailto:lique2@sapo.pt)
De Anónimo a 18 de Abril de 2004 às 11:23
Gostei muito do seu blog. Agora que Abril faz trinta anos, entrando assim na idade adulta, bom é que nos lembremos do passado para merecermos o presente e o futuro.Henrique Prior
(http://odisseus.blogs.sapo.pt)
(mailto:henrique.prior.@clix.pt)
De Anónimo a 18 de Abril de 2004 às 11:09
Obrigada:)levantar do chão custa, senti a tua mãoencandescente
(http://eroticidades.blogs.sapo.pt/)
(mailto:encandescente@sapo.pt)
De Anónimo a 18 de Abril de 2004 às 10:54
Analfabeto: bom dia, amigo. Obrigada pelo teu comentário. A obra já está cá em casa há bastante tempo, é verdade. Mas está bem documentada e é acessível para pesquisa. Por isso a usei e referenciei, claro. Bjslique
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De Anónimo a 18 de Abril de 2004 às 10:50
Excelente post, históricamente correcto, boa investigação. Não vou dizer o motivo, mas fico feliz por usar a obra (já antiga) Portugal Contemporâneo como referência para o post. Muito bem escrito...analfabeto
(http://analfabetosexual.blogs.sapo.pt)
(mailto:pp@sapo.pt)

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