Segunda-feira, 5 de Abril de 2004

A gata preta

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Olhou lá para fora e viu que estava um belo domingo de sol. Tentou não prestar atenção ao ruido da televisão e ler o livro que tinha nas mãos. A gata preta espreguiçou-se no quadrado que o sol fazia no chão da sala. Reparou que o pelo dela parecia absorver toda a luz e o calor. Sentindo-se observada, a gata mexeu uma orelha e abriu os olhos. Parecia enfadada com aquela atenção.
Pensou para consigo que a vida de gato até nem era má. Os gatos conseguem sempre ser os donos da casa. Quando se abre a porta a um gato, entrega-se-lhe o seu território. Aquela passa a ser a sua casa e os humanos devem sentir-se honrados quando ele lhes concede a sua amizade (afinal para que é que serviam aquele roçar sensual e aquelas marradinhas?).
O olhar desviou-se da gata e passou pela sala. Achou que estava desarrumada, mas já era habitual. Não conseguia manter aquela casa em ordem, provavelmente porque essa nunca tinha sido uma das suas prioridades. Tentou outra vez ler o livro. Já sabia que durante a semana não ia ter tempo.
Sentiu o cheiro e o calor da casa e pensou há quantos anos ali vivia... Teve uma sensação mista de familiariedade e desconforto. Se fosse dar uma volta lá fora, talvez passasse. Mas sentiu uma grande preguiça. Olhou para a gata e sorriu.
Na televisão, o filme de que só estava vagamente a ouvir o som, chamou-lhe a atenção. Era com Nicholas Cage, sobre qualquer coisa ligada ao que poderia ter sido a vida de um homem se tivesse tomado outra opção, a determinada altura. Pensou que aquele começava a ser um tema recorrente, no cinema. Opções, escolhas e que elas implicam.
Olhou a gata preta e sentiu-a perfeitamente tranquila, sem medos, gozando o sol daquele domingo. Voltando ao filme, interrogou-se sobre o que teria sido a sua vida, se as escolhas tivessem sido diferentes. O sol brilhava quente mas um arrepio que não sabia se era de medo ou excitação, percorreu o seu corpo.
publicado por lique às 09:08
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22 comentários:
De Anónimo a 5 de Abril de 2004 às 21:09
MWoman: na realidade, como eu disse ao Acaso, importante é vivermos bem a vida e isso é um conceito absolutamente individual. Bjslique
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De Anónimo a 5 de Abril de 2004 às 21:06
Analfabeto: Então não gostas de gatos! Que pena! Quanto à questão das opções, realmente cada um sabe de si! :))lique
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De Anónimo a 5 de Abril de 2004 às 21:01
Hana-le: bem vinda aqui ao meu cantinho. É a primeira vez, não é? Gosto da tua teoria, o problema é sabermos qual a escolha que nos faz subir esses degraus todos... Se pudéssemos adivinhar... A gata e eu agradecemos os beijinhos.lique
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De Anónimo a 5 de Abril de 2004 às 20:36
Difícil saber como teria sido a nossa vida se outras escolhas tivessemos feito...o que importa é percorrer esse caminho escolhido da melhor forma que soubermos...mas isto é um assunto que dava pano para mangas...beijosMWoman
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De Anónimo a 5 de Abril de 2004 às 20:35
De opções alheias não falo, mas eu não gosto de gatos, prefiro cães, talvez por ter sido criado sempre perto de vários cães...analfabeto
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De Anónimo a 5 de Abril de 2004 às 20:13
Eu acho que a vida não teria piada, nem mesmo para quem a criou, se tudo estivesse predestinado. Seria como ver um filme daqueles muito maus, em que quase se adivinha a próxima frase do protagonista. Em vez de ver a vida como um caminho cheio de bifurcações, eu tento ver a vida como uma escada. Uma escolha pode fazer-nos subir trinta degraus de uma vez só; outra escolha, pode-nos fazer tropeçar e descer outros trinta às cambalhotas... O caminho é de evolução e aprendizagem. Muitos beijos para ti e uma festa (contra-vontade dela, claro) à gata.Hana_le
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De Anónimo a 5 de Abril de 2004 às 17:25
Acaso: é mesmo uma fé. Vês tu, meu amigo, eu acredito que somos nós que fazemos o nosso destino, através das nossas escolhas. E tu dir-me-ás que as nossas escolhas já estavam predestinadas. E daqui não saíamos. De qualquer forma, importante é viver bem a vida que as nossas opções determinaram (tendo consciência de que isso é diferente consoante o indivíduo). Bjslique
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De Anónimo a 5 de Abril de 2004 às 17:20
Porquinho: a minha gata preta é linda, tão linda quanto arisca e independente. É assim. Não há bela sem senão. Bjslique
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De Anónimo a 5 de Abril de 2004 às 17:18
Partebilhas: diabo de nick este... Hás-de explicar-me a razão, O.K.? Nunca se sabe qual seria o caminho certo (se é que isso existe). A vida é irrepetível e nunca poderemos experimentar todos os caminhos. O amor aparece quase sempre, mas seria certamente diferente conforme o caminho... Dá que pensar! :))*lique
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De Anónimo a 5 de Abril de 2004 às 15:04
Eu que acredito em vidas sucessivas, não acredito em acasos. (Só de letras).

E a nossa vida não poderia ser diferente da que temos, porque tudo está pre-destinado.

Mas este é apenas um ponto de vista. Talvez uma fé. Não o posso provar.

BeijosAcasoDeLetras
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(mailto:manintherisingsun@hotmail.com)

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