Ó imagem do meu horizonte restrito e fronteiro,
há pouco ao alcance dos meus olhos reais,
perto, perto, ali!...
E parecu-me coisa tão natural
uma coisa que talvez não torne mais a acontecer!
Tão natural que só olhei de quando em quando
e de revés,
nem senti o desejo de fixar-te bem...
e era fácil, imóvel como ias!...
E se o tivesse feito
acabava nitidamente com a multidão dos teus aspectos
sempre desencontrados entre a memória e o pensar memória!
Tão natural porque talvez cá
dentro de mim, ande
uma confiança de repetição destas pequenas coisas,
confiança feita de não esperar
e de as supor maiores...
Jorge de Sena, in Obras, Vol.10º